Em 2009 a escritora nigeriana Chimamanda Adichie falou sobre “O perigo de uma única história”, no TEDx. Ela discorreu sobre o erro que é conhecer histórias sob apenas um aspecto e de como isso contamina nossas percepções de mundo.
Hoje conhecida mundialmente, Chimamanda aprendeu a ler e a viajar pelas linhas dos livros lendo os autores que tinha à mão, que eram geralmente americanos ou britânicos. Devido a colonização britânica, o inglês é a língua oficial da Nigéria e, claro, a influência cultural inglesa é massiva no país.
Quando foi apresentada à literatura africana de Chinua Achebe e Camara Laye, a autora mudou sua perspectiva, sua narrativa e sua vida. Começou a ver – e ler – as coisas fora da perspectiva do observador e, no caso, do “vencedor”. “Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia.”
É importante que as pessoas se identifiquem nas histórias, porque elas não são únicas e, claro, elas podem estar lá. Chimamanda amava aqueles livros americanos e britânicos que lia. “Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos”, disse. Mas com um porém: “a consequência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são”.
O que Chimamanda passou, muitas mulheres negras passam. E homens negros também, embora menos. No ano passado, mulheres protestaram contra a ausência de escritoras negras na Festa Literária de Parati (FLIP). O curador da Flip, Paulo Werneck, fez um mea culpa ao reconhecer a falha.
Nesse Dia Internacional da Mulher é preciso que as mulheres negras não sejam apagadas e reduzidas como Carolina Maria de Jesus e ampliem sua visão de mundo para além da versão única, como fez Chimamanda Adichie. Por isso The Intercept Brasil preparou uma lista de dicas de autoras negras para quem quer se ver e reconhecer na literatura: