Quem culpa as vítimas do incêndio no prédio em SP e criminaliza todo e qualquer movimento social passa pano para a única razão do que ocorreu: o descaso dos governos em garantir um direito constitucional
A tragédia do desabamento do prédio em São Paulo não trouxe à tona somente a omissão do poder público em relação à situação calamitosa da falta de moradia no país, mas também o oportunismo canalha de políticos, militantes reacionários nas redes sociais e setores da imprensa, que se aproveitaram do caso para criminalizar movimentos sociais em um momento em que a única coisa que se esperava era solidariedade. A tragédia foi usada politicamente por aqueles que pretendem deslegitimar a luta por moradia, que nada mais é do que um direito garantido pela Constituição.
Relatos de moradores indicam que as 146 famílias que moravam na ocupação tinham que pagar até R$ 400 de aluguel para os líderes do Movimento Luta por Moradia Digna, dinheiro que serviria para bancar a manutenção do edifício. Mas o que se via era um prédio sujo, cheio de ratos, com banheiros sem condições de uso, instalações elétricas precárias e frequente falta de energia.
Como se já não bastasse a omissão do poder público em garantir uma moradia digna a esses cidadãos, líderes de movimento social se aproveitaram dessa vulnerabilidade para faturar em cima. Essa exploração é grave e merece a atenção da imprensa e das autoridades, sem dúvida, mas continua sendo um fato menor diante da tragédia do desabamento do prédio e da situação calamitosa de sem-teto não só daquele edifício, mas de todo o Brasil.
Mas autoridades, oportunistas de direita e parte da imprensa transformaram esse caso em uma das principais pautas da tragédia, aproveitando a ação de alguns estelionatários travestidos de movimento social para criminalizar toda a luta por moradia.
O sempre oportunista João Doria Jr. não perdeu a oportunidade de reforçar publicamente a sua babaquice. Sem ter absolutamente nenhuma prova, o ex-prefeito tucano afirmou que o prédio foi invadido por uma facção criminosa que utilizava o local para tráfico de drogas. Um prédio desabou no centro da cidade, famílias perderam o pouco que tinham, e o candidato ao governo de São Paulo aproveita o momento para atiçar o datenismo na sociedade. A gestão do ex-prefeito foi procurada para dar mais explicações sobre a acusação jogada ao ar, mas, claro, preferiu não comentar.
Michel Temer foi ao local do desabamento, mas foi escorraçado pela população sob gritos de “golpista” e chutes na lataria do seu carro. O homem que capitaneou o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos foi lá para prestar solidariedade às vítimas dessa tragédia social, “afinal estava em São Paulo e ficaria muito mal não comparecer”, segundo o próprio. O governador paulista Márcio França afirmou que era uma “tragédia anunciada” e que ali havia “muita gente com vício”, “muita prostituição”, procurando rotular os moradores do prédio que havia acabado de desabar.
Perguntado sobre quais medidas o governo do estado deveria adotar para evitar novas tragédias, França disse que é necessário “convencer as pessoas a não morar desse jeito”. É como se as pessoas decidissem morar naquelas condições precárias por vontade própria e bastaria ao poder público convencê-las do contrário. É como se todos ali fossem como João Doria Jr., um riquinho que poderia escolher mil lugares, mas preferiu invadir uma área pública para construir sua mansão.
A onda de criminalização dos movimentos dos sem-teto que sucedeu a tragédia criou o ambiente perfeito para a criação de boatos nas redes sociais. Um texto passou a circular afirmando que o Boulos, líder do MTST e candidato do PSOL à presidência, comandava a cobrança dos aluguéis no prédio e faturava até R$ 1 milhão por mês. O filhotinho de cruz-credo, Eduardo Bolsonaro, pegou carona no boato e produziu o que se espera dele: chorume. Poupou o poder público e culpou o MTST e o PSOL, que nunca tiveram nenhuma ligação com a ocupação do prédio.
Uma morte confirmada e suspeitas de desaparecidos. Bombeiros irão aos escombros por mais notícias.
Prédios vizinhos foram afetados pelo incêndio e desabamento, será que MTST ou PSOL irão indenizá-los? https://t.co/pv8nlhu9bA
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) 1 de maio de 2018
Mesmo alertado sobre a fake news, o deputado a manteve no ar. Produzir mentiras enquanto acusa adversários de mentir é a principal estratégia eleitoral da família Bolsonaro. Trata-se da mesma estratégia vitoriosa de Trump.
O panfleto de direita O Antagonista, de propriedade da empresa de investimentos Empiricus, fez uma singela pergunta aos seus leitores: “Se a perícia confirmar que o prédio no centro de São Paulo pegou fogo e desabou por causa de moradores que fizeram uma lambança com álcool na hora de cozinhar, eles serão responsabilizados ou a miséria, assim como a riqueza, torna os cidadãos inimputáveis no Brasil? É só uma pergunta.” Em um país cujo sistema punitivista funciona como uma máquina de moer pobre, perguntar se a miséria torna o cidadão inimputável não é apenas estupidez, mas má-fé com pitadas de psicopatia. É só mais um pensamento corriqueiro na cabecinha de quem deseja criminalizar os pobres apenas por serem pobres que lutam por seus direitos.
Narloch, autor de Guia do Politicamente Incorreto — um livro panfletário repleto de fake news dedicado a reescrever a história sob o ponto de vista direitista —, também usou sua coluna na Folha para politizar a tragédia. Intitulado “Desabamento revela a máfia do movimento sem-teto”, o texto não dedica uma vírgula ao déficit habitacional no país, apenas trata de colocar no mesmo saco todos os movimentos de luta por moradia e equipará-los às milícias do Rio de Janeiro. Para ele, a diferença entre quem luta para fazer valer um direito constitucional e criminosos milicianos é que um “tem marketing de movimento de esquerda, o outro não. Um tem apoio da imprensa e de ONGs; o outro enfrenta o ódio desses grupos.” Foi com essa reflexão sofisticadíssima que o jornalista e filósofo carimbou como criminosos todos os movimentos que lutam por um local digno para morar.
Quem culpa as vítimas e pretende confundir a sociedade misturando movimentos sociais sérios com movimentos picaretas, passa pano para a única razão da tragédia: a falta de ação das três esferas governamentais no cumprimento da obrigação de oferecer moradia digna para todos os seus cidadãos.
“Quem está aberto em abril, eu aconselho vir urgente acertar. Quem não vier, à noite estarei na porta. Nem se for 2h da manhã eu vou bater para cobrar.”
“Senhores porteiros da rua Marconi: a Conceição, do 4º andar, o prazo dela acaba no domingo. A partir de segunda ela não entra mais no prédio, só se for para retirar as coisas.”
As frases acima estão no grupo de WhatsApp de moradores e coordenadores do Movimento Moradia Para Todos (MMPT). A autora dos áudios é Ednalva Franco, líder do movimento que controla quatro prédios —na Bela Vista, na Mooca e no Centro (rua Marconi e Capitão Salomão).
Moradia para todos que aceitam ser tratados a pontapés
Filiada ao PT desde 1990, Ednalva Franco é assessora da deputada estadual Marcia Lia (PT-SP) e conhecida ativista sem-teto de São Paulo. É Ednalva que aparece num episódio de 2013 do Profissão Repórter saindo com uma SUV nova da garagem de um prédio da Praça da República.
“Porteiros, eu vou passar todos os nomes das pessoas que o prazo acaba até domingo. Inclusive a Luciana, do 309”, diz ela em outra mensagem do grupo. “Vou passar toda a lista pra vocês na portaria assim que eu terminar.”
Depois que escrevi sobre o modelo de negócio dos líderes de movimentos sem-teto, na semana passada, ex-moradores me procuraram denunciando abusos, ameaças e a cobrança de aluguel de R$ 200 a R$ 500 por parte dos coordenadores.
“Além do aluguel, a coordenadora sempre inventa uma taxa nova para o pessoal pagar”, me disse um ex-morador do edifício São Manuel, na rua Marconi, que não se identifica por temer represálias. Ele calcula que os alugueis só desse edifício rendem pelo menos R$ 35 mil por mês ao movimento.
Parabéns Goodfella por indicar alguns dos responsáveis por essa atividade camuflada de “movimento social em prol dos necessitados”. O ranço ideológico que caracteriza essa reportagem nunca deveria ser usado por jornalistas. Não importa se os responsáveis são do PT ou do PSDB ou do MDB ou do PP… Lugar de bandido é na cadeia. Essa idéia de que bandido de direita é bandido mal e bandido de esquerda é bandido bom é coisa de gentinha pequena, idiota. Bandido bom é bandido morto. Como somos civilizados e não matamos, temos que prender.
De novo vou plagiar Millôr Viola Fernandes e dizer que não merece consideração quem lucra com seus ideais.
Concordo com vc Nosli: bandido bom é bandido preso, independente se é de direita ou esquerda.
Esta bandida, cujo nome foi informado por Goodfella, deveria estar atrás das grades. Incentiva os mais humildes a invadirem (não é ocupar… é invadir, pois é algo q não pertence a nenhum deles) prédios públicos e privadas e se acha no direito de cobrar “contribuição” destas pessoas?
Como o escritor deste artigo jamais vai levantar os podres da esquerda q ele tanto defende e acredita q é perfeita… resta-nos levantar não bandeiras e sim, discussões produtivas e sem ofensas. Mas tenentando sempre buscar o melhor para nossa sociedade
Pois é Rose, o escritor deste artigo é ótimo para levantar currículos de políticos e candidatos. Veja o trabalho magnífico que ele fez sobre o dono das Lojas Riachuelo. Eu comentei, elogiei e pedi mais currículos. Mas que fique claro que o que vocês chamam de “esquerda”, como o PT, está tão podre quanto os mais podres da “direita”.
Eu tenho uma dificuldade enorme de entender como vocês chamam esses criminosos sociopatas de esquerda ou de direita. A ideologia dessa gente só tem um propósito: o enriquecimento ilícito à custa da morte de milhares de brasileiros e o comprometimento do futuro da nação.
Sempre entendi que os TRÊS maiores males da humanidade são DOIS, a invenção do monoteísmo.
Hoje entendo que os três maiores males da humanidade são: o monoteísmo, a ideologia de esquerda e a de direita. Nada trouxe tanta destruição e sofrimento do que essas invenções idiotas criadas para subjugar e extorquir populações.
Meus pêsames a quem ainda usa esses títulos para defender um comportamento ético e de respeito ao seu semelhante. E cadeia para quem assim age por dinheiro.
Olá Nosli! Excelente seu comentário e compartilho totalmente do seu pensamento. Assim como vc, eu tb não gosto desta dualidade esquerda x direita q foi criada nas redes sociais dos últimos anos para cá.
A minha intenção era agradecer a/o Goodfella por acrescentar este tema aqui, pois o autor é mto tendencioso e penso q msm ele tende esta informação, ele não colocaria. Pois ele , como a mídia golpista q ele tanta critica por não ser imparcial, tb não demonstra nenhuma parcialidade nos seus textos.
O triste é vermos a podridão q se tornou a classe política do Brasil, independe de qual ideologia seguem.
Obrigada por “discutir” os temas de maneira tão educada e sem ofensas, pois isto é algo q anda me cansando aqui. se falamos algo diferente do alguns pensam… vira show de ofensas. Q as pessoas tenham mais capacidade de entender o querem e aprendam a respeitar quem pensa diferente. Afinal, esta é máxima da democracia.
Estas invasões programadas de prédios públicos por parte de “Movimentos Sociais” mascaram o problema da falta de moradia e ainda criam um “inquilinato partidario e oportunista ” …
Basicamente se reproduz o que existe em favelas, onde pessoas de baixa renda são explorados por estes bandidos mascarados de movimento q visa resolver o problema habitacional. Bandidos… q usam da falta de informação das pessoas para q elas invadam imóveis e depois passam a estorquir, quem já não tem nem o básico.
João, sua escrita destaca muito bem como alguns importantes interlocutores deram uma “manutenção dedicada” de explicações nada comprometidas com a tragédia que vimos acontecer no dia 01/05- Dia do Trabalho. Era para desligar a tomada? Ou, na pior das hipóteses, não nos chocarmos tanto com essas notícias que atravessam um feriado? Culpar vítimas, nessas condições, é no mínimo, classificá-las como os prováveis de “vida curta, volátil e efêmera”.
Queria entender pq esse texto entrou nas minhas notícias? Cara vc é tão babaca que dá enjoo. Pessoas pobres sendo exploradas por uma milícia e por socialistas de merda… pobres miseraveis cuja tragedia vivida é usada por idiotas como você para fazer discursinho de esquerda. Levante a bunda da cadeira e vá ajudar ok? #Bolsonaro2018
Espero que você já tenha uma tatuagem na testa identificando burra porque uma anta votar num cara que diz que mulher deve ganhar menos por que engravida merece tomar um bom nabo no fiofó.
Os Bolsonaros são uma piada.
Bolsonaro presidente da república!!! Isso é uma piada.
Me senti representada
Vamos combinar: ninguém mora em condições ultra precárias se não estiver desesperado. Ninguém se alimenta, cria os filhos, enfim vive em condições sub-humanas se não estiver totalmente desprovido das mínimas condições de vida e de infraestrutura. Do nada não sai nada. O pano de fundo é um estado que não provê as mínimas condições de vida aos seus cidadãos mais pobres, tributa relativamente mais os pobres, enquanto para os mais ricos provê as taxas de juros mais altas do mundo, perdão para dívidas, impostos relativamente menores e uma “justiça” totalmente benevolente. É o estado anti-Robin Hood.
Esses políticos retrógrados e crápulas que denegriram e acusaram as vítimas são o pior que a mentalidade de Casa Grande produz. Esses políticos não são nem de direita, porque a direita não é totalmente desprovida de valores humanos. São vermes, abjetos. Os pulôveres de caxemira que usam em volta do pescoço são uma tentativa de mostrar sofisticação, refinamento. O problema é que quando esses políticos se manifestam mostram um grau de ignorância e malignidade, que nem com a vestimenta mais cara do mundo conseguiriam disfarçar que são uns porcos* fascistas.
*Perdão aos animais da espécie suína. Foi só força de expressão. Vocês animais da espécie suína são muitíssimo melhores que esses políticos.
A direita não tem valor nenhum são tudo uma corja de marginais de bandidos vigaristas embusteiros mau caráteres gente que não vale o que come.
Parabens pelo seu artigo. Muito oportuno e competente.
Fedegoso ou fedorento?
bom…se a constituição garante direito a moradia…também garante direito a vida à todo brasileiro: mas nem por isso eu confio que vou viver eternamente..
(Isso começou há muito tempo atrás; quando os primeiros homens ainda viviam nas cavernas costumavam gravar em suas paredes cenas da caçada na suposição que a gravura teria poderes mágicos trazendo sucesso na empreitada da vida real; nós os brasileiros, primitivos que só, fazemos o mesmo de certo modo; escrevemos leis aos montes na suposição infantil-cavernícola que só por estar escrito em algum lugar aquilo tem o poder de se tornar realidade e mudar o estado das coisas; aliás, radicais que somos, acreditamos em tudo que esteja grafado seja por que método for. Nós simplesmente não sabemos parar de acreditar.)
Sim claro, podemos inclusive, aproveitando essas “sábias” palavras do fedegoso, suprimir muitos capítulos daquela Constituição cheia de “suposições infantis-cavernícolas”, especialmente aquele incômodo Parágrafo único que tanto incomoda nosso fedegoso e outros semelhantes. Tenho certeza que ele viveria bastante mais contente sem essa “relíquia constitucional” e sem essa “besteirada” de soberania popular e eleições. Eles têm se esforçado para superar esses pequenos “inconvenientes”.
Essa é a direita do país, observem e se deleitem com essa corja de bandidos.
Dizem do pobre que ele pode sair da favela, mas que a favela jamais sairá dele. Talvez a favela seja mais que a construção urbana desordenada onde o pobres têm que ir dormir e deixar os filhos durante a jornada de trabalho. A favela talvez seja a própria condição social do indivíduo, esteticamente. É que a elite faz questão de manter as aparências, ou melhor, o distanciamento dos pobres favelizando-os, pelo processo da apropriação do recurso público que começa na política oportunista de um Dória e termina na SELIC.
Concordo com o artigo. Permita-me acrescentar que circula na internet uma foto de João Dória Jr. com os dois líderes do movimento de moradia que controlava a ocupação do prédio (os quais Dória disse não conhecer).
Um dos líderes da “nova” direita brasileira, Rodrigo Constantino, disse certa vez que “ter casa própria não é um direito”. Acho que isso explica muita coisa.
Bom texto. Eu só teria mais parcimônia quanto as adjetivações aos envolvidos. Seus textos são suficientemente bem escritos ao que o leitor consiga, per se, abstrair sob o caráter destes atores.
Parabéns mais uma vez, João. Belo texto e repleto de alguns adjetivos merecidos aos babacas citados, por nome ou razões sociais. Estou contigo!