No dia da eleição nos Estados Unidos, democratas estão preparados para mudar legislativos e governos estaduais por todo o país. Candidatos estaduais são relativamente desconhecidos na mídia nacional americana, embora suas posições tenham uma tremenda influência sobre a vida cotidiana de milhões de pessoas e uma influência direta sobre qual partido controlará o Congresso na próxima década. Este ano, os democratas aumentaram seus esforços para mudar assentos em níveis estaduais e abrir caminho para voltarem ao poder, lançando mais candidatos do que desde 1982.
Em muitos estados, as câmaras legislativas têm o poder de redesenhar os mapas distritais do Congresso, uma tática usada para beneficiar o partido no controle. Uma onda de vitórias democratas permitiria que o partido revertesse parte da manipulação republicana ocorrida durante o governo do presidente Barack Obama, acrescentando potencialmente dezenas de cadeiras da Casa dos EUA ao mapa. Com o controle de um governo estadual, os democratas poderão combater ataques conservadores ao direito de voto, acesso ao aborto e a cuidados de saúde reprodutiva e leis trabalhistas e sobre controle de armas.
Os republicanos controlam dois terços de todas as câmaras legislativas do país e detêm o controle simultâneo do legislativo e do executivo em 26 estados. Os democratas, entretanto, só detêm o controle simultâneo dos dois poderes em oito unidades federativas. Durante a administração Obama, os democratas perderam quase mil assentos estaduais em todo o país. Estados como Colorado, Nova York e Michigan estão prontos para os democratas assumirem o poder completamente. Até mesmo estados como Arizona e Flórida têm a melhor chance em décadas de ver uma das suas casas legislativas azular. Democratas também estão com boas chances nas corridas eleitorais para o governo de Flórida, Ohio, Michigan, Illinois, Wisconsin, Iowa, Kansas, Oklahoma e Geórgia. Em todo o país, 33 estados têm governadores republicanos, enquanto 16 são governados por democratas. O que se segue é uma lista incompleta de estados onde os democratas podem em breve assumir o poder.
O Colorado, por exemplo, está a apenas dois assentos do Senado de conseguir um domínio democrata dos poderes. Cinco mulheres em cinco distritos disputados ferozmente detêm a chave para a maioria do Senado estadual, e os democratas precisam vencer apenas quatro dessas eleições. Das cinco disputas, três dos assentos são ocupados por democratas e precisam ser defendidos para que o partido assuma o controle, enquanto que os outros dois são controlados pelos republicanos. A expectativa é de que o partido domine a Casa estadual e Jared Polis, o candidato democrata a governador, tem uma liderança de dois dígitos nas pesquisas.
Se os democratas conseguirem dominar legislativo e executivo, poderão finalmente aprovar grande parte da legislação que foi destruída pelos republicanos do Senado. Isso também significaria que, pela primeira vez na história, a maioria da bancada estadual do Senado seria composta por mulheres. Algumas das leis que os democratas estão “empolgadas por ver cruzar a linha de chegada”, conforme o Intercept relatou na última terça-feira, tratam de requisitos de licença familiar remunerada, investimento em educação básica e moradia acessível.
A corrida para o governo da Flórida, uma das mais acaloradas disputas neste ciclo eleitoral, é classificada como incerta. Pesquisas recentes mostram o candidato democrata Andrew Gillum com uma vantagem de um ou dois pontos sobre o republicano Ron DeSantis. Se eleito, Gillum será o primeiro governador negro da Flórida e o primeiro democrata a ocupar o cargo em quase 20 anos. O governador eleito terá o poder de aprovar ou vetar o mapa do Congresso de 2021, portanto, considerando o tamanho da Flórida, esse estado é particularmente crucial para o controle futuro da câmara federal dos EUA.
Quanto à legislatura estadual, virar qualquer uma das câmaras seria uma batalha difícil. Mas os democratas atualmente têm a melhor chance de fazer isso na câmara alta e esperam virar cinco assentos e acabar com o controle que os republicanos mantiveram nos últimos 20 anos.
A democrata Stacey Abrams e seu oponente republicano, o secretário de Estado Brian Kemp, estão cabeça a cabeça na corrida para governador da Georgia, outra das disputas mais observadas neste ciclo eleitoral. Se eleita, Abrams será a primeira governadora negra da história dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que derrubará um dos 26 domínios republicanos.
Espera-se que a legislatura permaneça com o controle republicano, mas Abrams teria o poder de vetar ou aprovar novos mapas do Congresso, influenciando significativamente qual partido estaria no poder na próxima década. Ela também poderia promulgar a expansão do Medicaid, que tem sido um ponto focal de sua campanha e que cobriria quase meio milhão de residentes de baixa renda do estado.
Pesquisas recentes mostram que a democrata Gretchen Whitmer ainda tem uma forte vantagem sobre o republicano Bill Schuette na corrida para o governo do estado. No Senado estadual, os democratas precisam conquistar nove cadeiras, o que lhes daria maioria pela primeira vez em mais de 25 anos. O partido tem mulheres concorrendo em sete dos nove distritos alvos do Senado, e 10 mulheres em suas 13 principais corridas pela Casa. (As mulheres representam mais de 50% de todos os candidatos para o legislativo de Michigan.) Para conseguir maioria na câmara baixa, o Partido Democrata precisa conquistar nove assentos. Não apenas o domínio republicano no estado é altamente vulnerável, como existe a possibilidade de ser totalmente transferido para os oponentes.
Os republicanos contam com maiorias apertadas em ambas as câmaras legislativas. Todos os 134 assentos do legislativo de Minnesota estão sendo disputados, e os democratas estão mirando os distritos suburbanos do Partido Republicano que optaram por Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016. O comando da câmara superior, no entanto, será decidido por um único assento, e os democratas têm apenas uma chance. A única vaga para o Senado estadual nas eleições deste ano é a eleição especial no distrito 13. O governo do estado tem estado sob controle de partidos separados, mas se o candidato democrata Tim Walz for eleito, a retomada de uma das câmaras do legislativo será fundamental para a implementação da agenda do partido.
Há uma chance, no entanto, que Minnesota acabe elegendo seu primeiro procurador-geral republicano pela primeira vez em quase 50 anos. O deputado democrata Keith Ellison deixou seu lugar seguro no Congresso para se tornar o principal advogado do estado, mas acusações de violência doméstica, que ele negou, corroeram seu apoio. Uma recente pesquisa Star Tribune – MPR News mostra o republicano Doug Wardlow sete pontos percentuais à frente de Ellison. Em uma pesquisa de setembro, Ellison detinha uma vantagem de cinco pontos sobre seu oponente.
Em New Hampshire, os democratas precisam conquistar três cadeiras no Senado e 22 na Câmara. Isso pode parecer muito, mas há 400 membros da Casa de New Hampshire. Um domínio completo de legislativo e executivo, porém, não é tão provável, já que o governador republicano Chris Sununu está entre os executivos mais populares do país e vem mantendo a liderança sobre a democrata Molly Kelly há meses. Ainda assim, o estado é alvo do Comitê de campanha legislativa democrata.
Um único assento no Senado estadual impede Nova York de liderar potencialmente o resto do país em políticas progressistas. Existem atualmente 32 democratas e 31 republicanos no Senado, mas um democrata, Simcha Felder, se une aos republicanos para dar a maioria ao Partido Republicano. A disputa entre o candidato republicano Carl Marcellino e o democrata James Gaughran no 5º distrito do Senado é vista como uma das principais oportunidades de recuperação democrata. Em 2016, Gaughran ficou a um ponto percentual de derrotar Marcellino, que não havia sido seriamente desafiado até então. É uma corrida dispendiosa e competitiva, mas há esperança de que o alto nível de entusiasmo democrático este ano se traduza em uma vitória.
Se o Senado virar, caberá ao governador Andrew Cuomo, que deve ganhar a reeleição, decidir em última instância como será o estado. Os democratas não têm controle sobre a câmara alta desde 2009, e a pequena margem impediu o progresso em áreas como regulamentação de aluguel, assistência médica, proteção a imigrantes e reforma das leis de voto arcano do estado.
O democrata Richard Cordray, que serviu como o primeiro diretor do Departamento de Proteção Financeira ao Consumidor, está conduzindo uma corrida competitiva para governador contra o oponente republicano, o procurador-geral de Ohio, Mike DeWine. Os republicanos mantiveram o domínio sobre o legislativo e o executivo desde as eleições de 2010, e os democratas estão com esperança de encerrar a maioria absoluta do Partido Republicano na legislatura estadual. Cordray também dá aos democratas a melhor chance de reverter parte das manipulações republicanas que tornaram Ohio o lar de alguns dos distritos mais manipulados do país. A think tank de esquerda Data for Progress trabalhou com a Launch Progress e a EveryDistrict para angariar fundos para quatro candidatos da Câmara e três candidatos do Senado como parte de seu projeto “Give Smart”.
Tradução: Cássia Zanon