Uma das grandes maravilhas do capitalismo é a inovação. Inovar significa, de maneira simples, criar algo novo ou fazer algo velho de uma nova maneira. E nisso o capitalismo é craque.
Talvez dois mais importantes economistas políticos que analisaram o fenômeno da inovação foram o alemão Karl Marx (escudado por vezes por seu amigo Friedrich Engels) e o austríaco Joseph Schumpeter.
No Manifesto de 1848, numa das passagens mais famosas do texto, Marx e Engels afirmam:
“A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas”.
Enquanto as sociedades baseadas em outros modos de produção se caracterizavam pela estabilidade das relações econômicas e sociais, o capitalismo é marcado pela revolução permanente. E é essa instabilidade que permitiu que a burguesia realizasse em poucos séculos de domínio maravilhas maiores que “as pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas”.
N’O Capital de 1867, Marx volta a mostrar seu alumbramento com as inovações, no capítulo 13, intitulado “Maquinaria e Grande Indústria”. Mas o tema perpassa todo seu sistema. No modelo de Marx, o capitalista busca aumentar a massa de mais-valor que extrai de seus trabalhadores. Se estamos em um mundo de produtos idênticos – camisas brancas, por exemplo –, o capitalista pode aumentar seus lucros fazendo seus operários trabalharem por mais horas que a concorrência (mais-valor absoluto), ou fazer com que seus trabalhadores produzam mais mercadorias em menos tempo (mais-valor relativo).
Para Marx, a dificuldade estava no mais-valor relativo. Para produzir mais em menos tempo, são necessárias novas máquinas e equipamentos, novas formas de comunicação, de transporte, de organização da produção, novos sistemas de logística etc. O capitalista que conseguir criar ou fazer uso dessas inovações terá uma maior taxa e uma maior massa de lucro, conquistando cada vez mais participação no mercado. Caminhará para se tornar um dos gigantes do setor.
Quem não for capaz – ou não tiver recursos para inovar – será engolido. Aliás, mesmo a empresa líder do mercado – como contam as histórias da Kodak e da Nokia – mostra que a bancarrota está sempre na esquina.
Em 1911, na sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico, Schumpeter fez bom uso das teorias de Marx, a partir de uma ótica liberal. Para Schumpeter, a mudança não nasce a partir de modificações nos gostos dos consumidores. Na verdade, são os empresários inovadores que criam novos produtos e “educam” (esse é o termo usado pelo autor) os consumidores sobre sua necessidade.
Toda criação está carregada de destruição.
Um exemplo pessoal. Nos meus tempos de faculdade, a viagem de ônibus era embalada por música ouvida através de um CD player e, principalmente, um walkman. Eu andava com três ou quatro fitas na mochila, e o mundo parecia bom.
Jamais imaginei que um dia, poucos anos mais tarde, haveria uma coisa chamada Ipod – ou o MP3 da feira, seu primo pobre ao qual tive acesso –, no qual cabiam as músicas de todos os CD’s que eu tinha na minha casa (sobrando espaço, aliás). Nós jamais demandamos um telefone celular que fosse também um computador, uma televisão e um Ipod (aliás, o smartphone matou o Ipod de modo lento e cruel).
Mas como fica evidente nesses dois exemplos, toda criação está carregada de destruição. O Ipod destruiu o discman, o smartphone destruiu o Ipod. Isso é parte do fenômeno que Schumpeter chamou de “destruição criativa”. O novo produto ou o novo processo destrói o que era velho.
Mês passado foi divulgado que, com o fechamento de uma loja na Austrália, há hoje apenas uma única Blockbuster no mundo. Há uma década, eram 9 mil lojas, com pés nos quatro cantos do mundo, no Brasil inclusive. Uma rede literalmente global foi morta por uma inovação: Netflix.
Outro exemplo: há poucos anos atrás ter frota de táxis era um ótimo investimento. Para obter uma licença de taxista, o sujeito precisava desembolsar uma pequena fortuna. Hoje qualquer um pode se cadastrar no Uber e operar como táxi.
Mas nem tudo são rosas. Muitos são os trabalhadores ao longo da história que sofreram (e sofrerão) com o desemprego derivado de alguma inovação poupadora de mão de obra. No início do século 19, os chamados ludistas destruíram as máquinas que lhes roubavam os empregos. O drama dos trabalhadores instigou os economistas: seria a inovação boa também para os trabalhadores?
As condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado.
Para os marxistas, a resposta seria negativa. Essas inovações, num sistema capitalista, forçariam os salários para baixo, reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores, jogando alguns na miséria, outros no subemprego e muitos em empregos precários.
Os liberais, via de regra, respondem essa pergunta afirmativamente. Ainda que a inovação destrua alguns empregos, ela cria fundos que permitem investimentos e aumento da produção que farão com que a região inovadora seja capaz de criar mais vagas de trabalho, que pagam salários maiores.
Depois de um começo vacilante, as evidências pareciam corroborar a visão liberal. Os países mais inovadores são os que oferecem mais e melhores empregos. Enquanto países atrasados tecnologicamente têm menos vagas e piores salários.
Mas há algumas décadas, desde o início da hiperglobalização após o fim da Guerra Fria, um movimento contraditório vem acontecendo. Com a entrada de mais de 1 bilhão de chineses no mercado de trabalho capitalista – sem contar os de outros lugares –, multidões de trabalhadores de países subdesenvolvidos têm escapado da miséria. Porém, as condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado. Nos países centrais, por exemplo, os ganhos de produtividade não parecem se materializar em aumentos de salários (ainda que esse dado seja controverso).
Além disso, tem crescido, desde os anos 1970, o número de horas trabalhadas pelos americanos, bem como a proporção daqueles que trabalham mais de 40 horas semanais. Quarenta horas semanais foram uma conquista de trabalhadores ingleses (uma pequena porção, é verdade) ainda em 1889.
Um cenário melancólico, se pensarmos no otimismo de um J. M. Keynes que, em 1930, acreditava que os netos de seus contemporâneos poderiam viver em abundância trabalhando três horas por dia. Hoje o fantasma dos robôs e da chamada “uberização” das relações trabalhistas é um espectro que ronda todo o mundo.
Um número crescente de profissões pode facilmente ser substituída por algoritmos, robôs e outras tecnologias digitais (como a minha, de professor universitário). O Uber, que tem sido a tábua de salvação de milhões de pessoas em países como o Brasil, tem um modelo de negócio em que seu funcionário sequer é seu funcionário. Há a liberdade aparente de trabalhar quando e quanto quiser, que se materializa em jornadas intermináveis – há casos de motoristas que vivem literalmente em seus carros nos EUA – e em uma virtual ausência absoluta de direitos trabalhistas em caso de acidentes, doenças, incapacidades etc.
Estamos caminhando para o mundo do “freela”, das relações pautadas pela uberização. A reforma trabalhista de Temer e a carteira de trabalho verde-amarela de Bolsonaro são passos nessa direção.
Enquanto gerações passadas podiam sonhar em construir uma carreira de 30 anos numa mesma empresa, é provável que as novas tenham que se acostumar com a instabilidade do desenho “uber” de trabalho.
Como já se disse uma vez: tudo o que era sólido se desmancha no ar.
Lista de e-mails gerenciada pelo MailChimp
OS COMUNISTAS NÃO ENTENDEM QUE SUA IDEOLOGIA SÓ CAUSOU MAL E ASSASSINATOS…MARX SEMPRE FOI UM VAGABUNDO, VIVEU SUA VIDA AS CUSTAS DA MULHER, TODOS SUPOSTOS CIENTISTAS E FILÓSOFOS DE ESQUERDA SÃO PSICOPATAS, NÃO QUEREM ENXERGAR A REALIDADE ….NÃO HÁ PAIS COMUNISTA QUE NÃO SEJA UMA DITADURA CRIMINOSA…..
O SOCIALISMO SÓ SERVE NO SEIO DA FAMÍLIA , FORA É CAPITALISMO
LUGAR DE VAGABUNDO É NO OLHO DA RUA…..
Faltou dizer que o projeto da Uber são carros pilotados por robôs. Ou seja, os trabalhadores da Uber estão financiando o fim do seu trabalho. Isso é muito maluco…
Querem se preparar para o futuro? Aprendam a plantar e comecem logo. Vão precisar de armas também para defender a fonte de água. Não se enganem em 10 anos a carnificina será geral e irrestrita.
Um cara me mandou comprar um Toyota Corolla 0Km e ser Uber Black. Só não sei de onde tirarei R$ 100.000,00 para então ganhar os propalados R$ 10.000,00 por mês…
Parabéns pelo ótimo texto. O termo “uberização”, é contemporâneo para definir algo antigo, a “automação”. E a Constituição Brasileira de 1988 prevê como diretriz a “proteção em face da automação”. Diz assim: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (…) XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei”. Da mesma forma que as mudanças sociais são habilmente utilizadas para suprimir direitos, como na questão previdenciária, também deve ser observada na inclusão de novos direitos. É justo, por exemplo, o YouTube desmonetizar um vídeo sem justificativa? É justo banir um motorista do Uber sem justificativa? Não seria mais adequado reduzir as jornadas de trabalho para 36 ou 24 horas por semana, como forma de ampliar a oferta de empregos “em face da automação” crescente? Ou sobre-taxar o adicional de horas extras (que suprime abertura de vagas) de 50 para 100 ou 150%?
Excelente ponto de vista.
Os profissionais liberais sempre trabalharam sem garantias.
Página esquerdosa até o osso da língua. Não merece crédito.
La falácia ad hominem
Acorde Olavete…você não será convidado a entrar na sala…não vai passar da cozinha….essa onda de direitosos e liberalóides servirá apenas para guardar o lugar privilegiado para os mesmos de sempre…a não ser que você venda sua alma e da sua família…
Os seguidores de Olavo de Carvalho, não sei porque, só falam e escrevem asneiras onde quer que passem. Sai daqui, moleque.
Há diferença, no Brasil, entre forças armadas, bandos de milicianos, policiais jagunços, grupos de extermínio, esquadrões da morte e máfias assassinas?
Vida humana no Brasil é vista como algo sem valor.
Esses grupos existem, mas por que existem?
Porque a sociedade aceita sua existência.
Porque para os próprios indivíduos a vida do próximo nesse inferno que alguns chamam de país vale nada
https://www.youtube.com/watch?v=un_xKY27spA
Avança a tecnologia e menos mão de obra e não adianta dizer que é só se preparar, em um futuro próximo o uber não vai ter motorista, engenheiros, arquitetos, médicos, a lista de profissões que irão sumir em 30 , 40 anos. A união européia estuda uma renda mínima para ser paga a todos os trabalhadores e aos não trabalhadores. O futuro eu acho que vai ser um Mad Max da vida local.
Deve-se diferenciar TECNOLOGIA de INOVAÇÃO para o texto ficar perfeito.
Para os marxistas o ludismo era falho ao não perceber que o problema nao é o desenvolvimento tecnológico, posto que esse é fruto do trabalho -o que, incluso, na ontologia marxista é o que nos diferencia dos animais.
Schumpeter é falho por não pontuar que inovação consiste em fetichismo da tecnologia se há propriedade privada dessa inovação e uma divisão alienante do trabalho, portanto. Isso na crítica marxista a Schumpeter.
A crítica marxista a teoria da tecnologia liberal se da pelo fato da função de produção ser homogênea quando obviamente isso não é real, há, justamente, empresas mais produtivas que outras, Estados Nações mais produtivos que outros porque o Imperialismo toma violentamente a propriedade para tornar ela privada.
Do jeito que o texto ficou, sem explicitar a diferença entre TECNOLOGIA e INOVAÇÃO, da a impressão que só os liberais gostam do desenvolvimento e que Marx era ludista. O que é um erro comum e crasso sobre essas teorias.
Se tu nasce na América Latina, África, Sudeste Asiático, Sul da Ásia, o melhor para a pessoa é morrer no parto, porque a vida vai, provavelmente, ser lascada….
quando vejo essa defesa de ferias remuneradas, decimo terceiro sempre me lembro de uma ex namorada com o garçom da pizzaria: a senhorita deseja sua pizza em 8 ou 4 fatias??? e ela:
oito fatias?? ta doido??? não aguento comer tudo isso…parte em 4 que aí sim fica fácil.
agora fico esperando a turma da esquerda com neurônios danificados todos ouriçados querendo saber o que tem uma coisa a ver com outra.
Que ela te faz falta.
Realmente os liberalóides acham que tem resposta pra tudo…quando não tem é porque faltou vontade política ou alguém sabotou seus maravilhosos planos. Sim, nossas férias remuneradas de 30 dias são motivo de inveja no mundo todo. Sim, o 13 mesmo sendo uma mágica contábil, uma poupança forçada, injeta bilhões na economia, dinheiro que faz falta principalmente em janeiro e fevereiro quando o consumo é sensivelmente menor. Essa balela incessante de economia crescer, criar oportunidades, explorar, atingir mercados…isso é parte do artificialismo do viver moderno. A obsolescência programada, a indústria venenosa alimentícia, a criminosa fábrica de doenças pra vender remédios. Felizmente em países desenvolvidos a roda está, não girando para trás, mas começando a girar na velocidade correspondente a vibração humana. Cidades verdes na Alemanha, Japão incentivando mini hortas até mesmo em apartamentos, melhores sistemas de transportes, países proibindo transgêneros, até mesmo partos de crianças da forma natural. Apesar de boçais quererem cada vez mais desenvolvimento, indústrias, crescimento da economia (somente para o bolso dos donos e apaniguados) . Não vá culpar o pobre brasileiro..culpe os engravatados que estudam em harvard e aparecem com uma solução que uma dona-de-casa resolveria melhor, que é de cortar gastos (obviamente com os pobres…(quando é para socorrer maganos e canalhas bilhões brotam como mágica..) sociais, afinal é muito caro custear a educação e saúde de quem carrega o país nas costas.
A mentira começa quando você chama de ex-namorada sua uma pessoa que aparecia em um antigo vídeo de um americano fazendo bullying com sua namorada.
Você não tem ninguém, boçal.
me pegou…vc é muito sabido
Segue o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=cemgBNqGpi0
Se quiser explicar por quê você acha que os salários aumentariam, fique à vontade.
Eu, particularmente, acho ingenuidade acreditar nisso. Ainda mais em se tratando de terra brasilis.
“Os países mais inovadores são os que oferecem mais e melhores empregos. Enquanto países atrasados tecnologicamente têm menos vagas e piores salários.”
Porque eles roubam valor dos países tecnologicamente atrasados por meio de trocas desiguais já que suas mercadorias com menores valores se trocam por mercadorias de valores maiores e eles roubam a diferença. E uma maior tecnologia produtiva diminui o preço das mercadorias das quais os trabalhadores precisam.
Para ter 15% da humanidade vivendo como classe média e elite, 85% precisar ir para o matadouro
Exatamente. Complementou muito bem o texto (que está muito bom também). Há uma fatal relação dialética entre riqueza e pobreza em nível global (e local também). A primeira só existe como resultado da segunda.
Concordo! São essas relações desiguais, que os países desenvolvidos perpetuam ao tratar os demais como colônia, que geram essa diferença tecnológica. Enquanto o país “vassalo” não criar vegonha na cara, com o seu povo fazendo uma verdadeira revolução que promova a real independência, tudo fica do jeito que está. Essa é a técnica promovida pelos países imperialistas, dividir para conquistar. O Brasil é um exemplo clássico disso! São mais 30 partidos políticos, com verdadeiros traidores da pátria. Voltamos a entregar tudo, que pena.
E muito em breve, com o carro automato, todos os motoristas do Uber vão perder a sua fonte de renda.
Não em BH…aqui os motoristas vão acabar com os carros..sem motorista