Ilustração: The Intercept Brasil
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Comunicações Fábio Faria se reuniram nesta sexta-feira com o empresário Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, em um hotel de luxo em São Paulo. Na visita, o governo brasileiro divulgou que usará satélites da empresa do bilionário para monitorar a Amazônia – os valores da transação não foram divulgados.
Há apenas quatro dias, no entanto, a pasta de Faria afirmou de forma taxativa que não havia nenhum encontro agendado entre qualquer um de seus membros e o homem mais rico do mundo. A tentativa de esconder a reunião se deu na última segunda-feira, quando o ministério respondeu a um questionamento feito pela Coding Rights via Lei de Acesso à Informação.
A ONG, que trabalha na defesa dos direitos humanos na área tecnológica, perguntou se havia “uma data e local de realização” para o que vinha sendo noticiado pela imprensa como uma visita de Musk com a expectativa de parcerias ou acordos “em diálogo com o Ministério das Comunicações”. A organização perguntou ainda se havia uma “agenda de trabalho comum” entre o ministério e alguma das empresas de Musk.
A resposta veio sem rodeios. “Não há quaisquer reuniões ou visitas agendadas para tratar de qualquer tema entre este Ministério e representantes do Grupo Space Exploration Holdings”, declarou o ministério de Faria.
Poucas horas depois de fotos de Bolsonaro e Faria juntos a Musk estamparem os portais de notícias brasileiros, a Coding Rights divulgou a negativa do governo no Twitter, acrescentando que “esse episódio põe em xeque nossa confiança no sistema de transparência instituído pela Lei de Acesso à Informação”. A ONG ainda questionou: “Será que organizaram um evento com o presidente e o cara mais rico do mundo em menos de uma semana?” – ou melhor, em meros três dias?
“Possíveis acordos, ou facilidades por parte do governo brasileiro para as ambições de Musk são de interesse de todos. No mínimo é preciso que haja total transparência sobre qualquer reunião e agenda do bilionário com gestores públicos”, disse ao Intercept Joana Varon, diretora da ONG. “Se um evento desta dimensão, que junta presidente, ministro e um dos homens mais ricos do mundo, acontece numa sexta e a resposta negando que haveria qualquer encontro ou reunião aconteceu na segunda feira da mesma semana, tem algo estranho acontecendo”.